"Até um 'Porsche' lá vi dentro"
A localização do pavilhão que acolhe os veículos que o Estado pretende alienar não é do conhecimento público. Perdido no Parque Industrial do Barreiro, nem os que ali trabalham todos os dias sabem da sua existência. Paredes meias com o Museu Industrial, o armazém da Agência Nacional de Compras Públicas (ANCP) passa as 24 horas do dia com as portas encerradas e sem ninguém no interior. O DN encontrou, no entanto, quem já lá tivesse entrado e, sem se identificar, contasse o que viu. "Não imagina a quantidade de 'bombas' que havia, até um Porsche lá vi dentro", revelou um funcionário do parque.
Segundo o DN apurou, chegam todas as semanas às instalações da ANCP camiões cheios de carros, barcos e motas. Mas, apesar do aparato, nem mesmo a polícia tem conhecimento do depósito - e o edifício da PSP fica a poucos metros do local. "Devem ter dado o endereço errado, porque aqui no parque não conheço nenhum armazém do Estado", rematou um agente, quando interrogado sobre a localização do armazém da ANCP.
Quem por ali passa com regularidade pode até não saber que o pavilhão pertence Estado, mas já viu, certamente, as grandes descargas de veículos para o armazém 21, esquina com a rua 44. Ninguém sabe a verdade porque são muitas as versões que circulam para explicar o grande fluxo de automóveis. "Já me disseram que aquilo nem é bem do Estado", frisou um funcionário do parque que já lá entrou em trabalho.
Numa das superfícies, em frente à porta principal do Museu Industrial, o DN encontrou ainda outros dois empregados que garantem nunca ter desconfiado: "Vimos sempre grandes quantidades de carros a entrar, até fazem inversão de marcha em frente ao Museu, mas nunca percebemos que eram do Estado, nem ninguém sabe isso aqui."
Uma coisa une, porém, aqueles que já espreitaram o interior àqueles que nem sequer viram as portas abertas: é que ninguém sabe, ao certo, a quem pertencem 'as bombas', de onde vêm nem para onde vão. O DN contactou a direcção do Parque Industrial do Barreiro e a ANCP, que confirmaram tratar-se de um armazém para guarda de carros do Estado. Num e-mail enviado para o DN, a ANCP explica, de forma muito sucinta, a proveniência das viaturas: "O armazém contém actualmente veículos apreendidos pelas forças policiais e tribunais, com perspectiva de perda a favor do Estado e, temporariamente, veículos em fim de vida que os organismos entregam para abate, não existindo outras situações."